Alguém um dia apareceu sorrindo na casa de Arlindo.

Abriu o portão, e foi logo dizendo: — Ô de casa!!!

Passou pelos degraus da escada que levavam até uma porta de imbuia, toda entalhada com figuras de alguns animais domésticos.

Espiou pela porta entreaberta e não viu ninguém.

Vagarosamente, sentou-se em uma poltrona macia que estava no alpendre, pensando logo chegaria uma pessoa para atende-lo.

Vendo um livro na mesinha ao lado, começou a folhear as páginas amareladas cuidando para que a capa do mesmo não sucumbisse.

Um alpendre, uma porta, uma poltrona, um livro, ninguém.

Em uma das páginas, chamou sua atenção um poema de Cecília Meireles, dizia ter sido escrito na década de 1940, com o título de Exausta, Espírito, exausta.

Recordou o passado, quando estudante de escola pública, foi levado a conhecer a vida de alguns poetas nacionais e decorar poemas.

Ao ler Navio Negreiro, chegou às lágrimas. Como pode Castro Alves definir o sofrimento daquele homens, mulheres e crianças? E o que dizer do poema As Pombas, de Raimundo Correia, Meus Oito Anos de Casemiro de Abreu, A Boneca de Olavo Bilac e tantos e tantos outros poetas que o encantavam com seus talentos?

Mas, alguns autores ele desconhecia a obra, e foi na curiosidade que o levou a ler e reler o poema que na página ora devorava.

Quem seria essa poetisa?

Exausta, Espírito, exausta (Cecília Meireles)

 

Exausta, espírito, exausta.

Por todos os lados a espuma de caos.

Nem muro, nem dique, nem palavra, nem lágrimas,

Nem amor sem inteligência.

Pergunto-te. Espírito, se o caos é indispensável

E com melancolia temo ouvir-te dizer: sim.”

Absorto em seus pensamentos, não viu a hora passar.

Pensou. Devo ter adormecido e sonhei!

Em sua lembrança, via palavras e mais palavras ali escritas naquele livro amarelado, e em uma de suas páginas os dizeres tão lindos, porém tristes que falavam em estrelas eternas, cantar de pássaros, gênio, espírito e anjo.

Levanta-se, aproximando-se do beiral da sacada e olha para o infinito todo azul, depois para o horizonte, onde o solo parecia unir-se ao céu, e, escondendo, lá estava o Sol amarelo-avermelhado que teimava em partir.

Nisso ouve alguém dizer-lhe baixinho: Está a minha espera faz muito tempo?

Um pouco, diz, li algo muito precioso neste seu livro de poesias que certamente você abre diariamente.

Arlindo como sempre faz ao ver o amigo, abraça-o e diz.

Tenho-o como uma relíquia do passado, pois o ganhei da minha professora quando frequentava a terceira série do curso primário, por eu ter ganho uma competição de declamação, proporcionado pela Escola.

E é no crepúsculo das tardes serenas que aqui venho para afagar este livro, nem sempre o folheio, mas só o fato de estar ao meu lado no entardecer, que as lembranças da minha infância afloram saudosas, porque levou-me a poesia a viver na adolescência dias muito interessantes, e sei que na velhice o meu conforto, será ter sido um homem que soube oferecer flores às namoradinhas, e viver emoções significativas que levarei para a minha vida toda.

Procurei ser sentimental, sensível, apreciando a beleza que existe em cada pétala de flor, o verde de cada arbusto, a entender o olhar tão afetivo dos cães que conviveram comigo, a respeitar todos os equinos que tive de montar, a dar alimentos aos peixes do lago e sementinhas aos passarinhos que encantaram o meu viver!

Os dois abraçam-se e com olhos umedecidos pela emoção, dirigem-se até a cozinha, onde uma chaleira com água fervente, pedia a presença da cuia e chimarrão... e dois amigos!

 

 

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