Chove incessantemente neste momento.
Um vento frio teima em penetrar pela janela entreaberta da sala de visitas.
Os pingos d’água caem na calçada com um ruído contínuo e compassado.
Os galhos do arvoredo balouçam e as flores desfalecem fragilmente, caindo até o
chão.
Ao redor tudo está triste e sombrio, nuvens passam baixo e céleres, escuras e
pesadas.
No CD, uma música assobiada penetra pelos ouvidos com aquele som mais lindo,
reproduzido entre lábios e que tanto escutávamos quando na juventude os senhores
cantarolarem enquanto trabalhavam ou dirigiam-se para outros afazeres.
Os rapazes ao passar uma jovem, era aquele fiu... fiu... mais encantador e
gostoso. Com o recurso, pensavam atrair a atenção da garota desejada.
Quanta verdade e quanto mistério encerravam naqueles assobios, era a expressão
primeira em se fazer notar, chamar a atenção, que muitas vezes não davam certo.
A juventude de anos passados, era muito mais cuidadosa em externar
vontades e
sentimentos.
Se pouco havia a dizer, muito o assobio dizia.
Num assobiar eram ditas tantas palavras que escondidas, revelavam prazeres,
ideais, sonhos, lutas, fracassos ou vitórias.
Aqui e acolá, ouviam-se os assobiadores dizendo da sua saudade, dos seus desejos,
assim como um rio que guarda tesouros, revelava a sua vontade de aproximar-se,
de sorrir, de pegar nas mãos, de acariciar a face, quiçá roubar um beijo na
face.
Eis o que vivemos na juventude, namoricos nada materiais, tudo muito subjetivo e
ao recordar essa fase tão linda da existência, vemos a chuva continuar a cair lá
fora.
Almeja-se que um raio de sol penetre pelo aposento, e, que nuvens passem
lentamente e muito alvas anunciem um novo dia com muitos raios de Sol e aquele
contraste mais lindo: céu e terra!
Que se faça do assobio uma nova forma de expressão, galanteadora e de
irresistível sedução!
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