Uma menina, em nada era mimada.

Como todas as crianças do seu bairro, ao voltar da Escola, brincava com suas amiguinhas ou andava de bicicleta em frente sua residência, uma rua tranquila, onde todos os vizinhos conheciam-se e conviviam em harmonia.

A grande maioria, era de descendentes dos imigrantes que escolheram o Paraná nos finais do século XIX, para morarem.

Muitos, vieram de cidades interioranas para a Capital. Curitiba oferecia melhores condições de vida para seus filhos, tanto no que diz respeito aos estudos ou para o trabalho.

A menina, filha de um senhor alemão-russo, e de uma moça de origem austríaca e ucraniana, cresceu lendo os livros que seus pais ofereciam e ouvindo a rádio Nacional, à época a de maior audiência pelos programas e rádio-novelas um sucesso entre as famílias

O “Direito de Nascer”, “O Xeique de Agadir”, entre outras, proporcionavam a distração nas noites de inverno ou de verão.

Mas, haviam programas, em que a garota ficava atenta...

Pequena, mesmo assim não lhe era penoso ou difícil, entoar agudos quando Verônica Lake, uma cantora lírica, loira e linda, entoava seus trinados, feito passarinhos. Também, Ima Sumaque, uma cantora peruana, era ouvida atentamente pela menina que imitava seus agudos e graves.

Sonhava em poder frequentar uma academia musical, e receber aulas de canto e mais tarde, já adulta, ir num palco representar Carmem, o Morcego, La Bohème, entre tantas e tantas belíssimas óperas e operetas.

No Teatro Guaira, anualmente apresentavam-se grupos locais, onde as peças eram montadas de maneira lindíssima, com pessoas talentosas da cidade que compunham o elenco daquele Teatro magnífico.

De outras cidades e até do exterior, eram frequentes as apresentações, com sopranos, contraltos, barítonos, baixos, era aquela profusão de timbres sonoros, aveludados, com expressivos e ricos matizes.

Sabia da existência de cantoras como Zhang Luping, Renée Fleming, Ilga Noelsen entre tantas outras e de tenores como Mario Lanza e o famoso Caruso que inclusive teve apresentações em Curitiba na década de 20 no Teatro Guaira, anteriormente chamado de São Theodoro. (1884)

Esse teatro, instalado na Rua Nova, atual Dr. Muricy, quando da revolução federalista passa a ser prisão entrando em decadência, é demolido depois de alguns anos.

Uma pena, pois suas instalações internas eram de muito bom gosto, lotando galerias, platéias e balcões.

Sobretudo isso a menina interessava-se, encantando-se com as histórias que lia e relia, não só sobre esse setor cultural da Curitiba de ontem, como também de outro teatro o Hauer.

Quis porém o destino que seus caminhos enveredassem por outras alamedas, não menos floridas e alegres.

Hoje, convive com seus escritos, ouvindo o canto dos passarinhos seus companheiros que considera encantados... seus anjinhos de asas coloridas!

 

 

 

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