Numa região litorânea da terra dos pinheirais, existe uma cidade encantadora entre a serra e o mar.

Por entre matas verdejantes, praias, baías, montanhas e cascatas, chega-se àquele local bucólico da igrejinha do Bom Jesus, do morro do Cristo, das Pedras das Caieiras, dos balneários com gaivotas brancas com bico amarelo.

Para nela chegar, pode-se viajar por uma estrada recortada por penhascos em ambos os lados, grutas, cavernas misteriosas e precipícios que ao nosso olhar, desprendem-se entre um belíssimo arvoredo natural preservado.

É a Mata Atlântica que percorre-se por uma estradinha de paralelepípedos estreita e perigosa, com o nome primoroso de... Graciosa.

Essa estrada histórica e centenária, revela a beleza intacta da paisagem com florezinhas coloridas nas beiradas e hortênsias exuberantes que serpenteiam pelos caminhos.

Entre tantas belezas, num banco da praça principal da cidade, semanalmente um idoso de cabelos e barbas brancas, tem à sua volta crianças que, atentas, ouvem as histórias que ele lhes conta.

Com gestos lentos, voz pausada e baixa, fala sobre uma lenda que passada e repassada de geração em geração, diz do que ocorre nas madrugadas quando surgem as estrelas coloridas e cintilantes no céu.

Essas depois de algum tempo, diz o senhor, observando os olhinhos arregalados dos pequenos, vagarosamente desaparecem por entre as nuvens que um tanto sonolentas, vão sendo envolvidas pelo manto negro da noite, e, como num colar de pedras preciosas, aparecem sorrateiramente, envolvendo e cobrindo uma cachoeira que despenca num lago de águas cristalinas e mornas.

Nesse lago as sombras ficam como que fosforescentes, e, bailando intensamente, mostram uma dança quase que macabra.

Um dos meninos que atento escutava o relato, pergunta:

― E o que é macabro?

O idoso calmamente explica que é algo horrendo, fúnebre e, continuando a descrever o local, reforça que são angustiados, revelando um espetáculo tão deslumbrante que mais parece uma procissão com velas serpenteando pela cascata encantada.

Erguendo o braço e, apontando ao longe, mostra um horizonte avermelhado, onde réstias de luzes recobertas por dezenas de bexigas coloridas, anunciam a alvorada.

Tudo parece aos olhos um tanto funéreo, com fantasmas adoidados, saltitantes, cobertos por espumas brancas e lilases, atirando-se com suas lâmpadas em chamas nas águas, desaparecendo no fundo eterno da lagoa.

As crianças um tanto atônitas, encolhem-se umas próximas às outras, mas, continuam atentas ao relato do senhor que vez ou outra sorri para elas.

Seus olhinhos brilham a cada gesto, a cada palavra proferida, estão interessadas em saber o final da história.

Assim, aquele homem de cabelos e barbas brancas explica que, mister saberem que constantemente ouve-se um canto mavioso vindo não se sabe bem de onde, que encanta e seduz.

É o canto de uma deusa que mais parece o sussurro de uma menina quase mulher, roubando a tranquilidade e quietude dos que param para escutar tão bela canção.

Por longas distâncias pode-se ouvir a melodia sacra quase uma balada lenta que, busca um resgate do que um dia quiçá perdeu.

Uma das garotas, pergunta:

― Como é essa moça que canta tão lindas canções?

― É uma menina moça com madeixas louras, olhos azuis da cor do céu, esbelta, vestida por alvas roupas bordadas com pedras de rubi e esmeraldas, que brilham aos raios do sol e encantam nas noites calmas de luar.

Vejam aquele manto azulado que todos os dias cobre a terra, contorcendo-se na meiguice do silêncio, encantando a natureza onde os graciosos pirilampos clareiam a escuridão com seus jatos multicoloridos de luzes.

Assim, entre abismos profundos, mistérios, sonhos e ilusões, resgata-se essa história que entorpece, fascina e seduz.

As crianças ficaram encantadas com a lenda, então aquele homem de pele enrugada, mãos trêmulas, perguntou:

― Que nome vocês dariam para essa cascata?

Todos responderam...

― “CASCATA ENCANTADA DA MENINA” 

 

 

 

 

 

 

Com esse conto a autora foi premiada na APLA

Academia Ponta-Grossense de Letras e Artes

 

 

 

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Pelo EnvioWebaguia

 

Fale com a autora:  lyzcorrea@hotmail.com


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