Numa cidade chamada Ribeirão, uma linda
serra a circundava, formando uma proteção natural contra os ventos frios que
vinham do sul.
A população em sua grande maioria era de
descendentes de portugueses e italianos.
Estes alegres e barulhentos, onde estavam,
tomavam vinho, deixando nos bigodes e dentes a marca do tinto encorpado que
tanto apreciavam.
Ligados ao campo, na agricultura tinham
seu meio de sobrevivência, principalmente no plantio de milho e de vinhedos.
A base da alimentação italiana na região
era a polenta com salame, uma delicia, acompanhados da broa cortada no peito da
nona.
Que gente mais simpática e amiga!
Já os portugueses eram ligados ao comércio
de gêneros alimentícios e criação de pequenos animais.
As mulheres portuguesas eram excelentes
doceiras !
Sempre saudosos dos antepassados,
rivalizavam com os italianos, na música e nas danças. Cada qual tinha seu grupo
folclórico que exibia-se a todo e qualquer evento na cidade.
Suas vestes coloridas, repletas de fitas e
rendas, coletes de veludo bordados, identificavam a região da terra de seus
ancestrais na Europa.
Os italianos na Tarantela eram exímios
dançarinos. Os portugueses no fado tinham seu ponto forte.
Era uma disputa ferrenha a cada
apresentação.
Nesse ambiente cresceram Cecília e Antonio
que se conheciam desde muito jovens. Eram até amigos.
Entre a juventude havia certo desconforto
dada a rixa de seus pais, cada qual considerando o seu povo o melhor.
A moçarada certo dia, resolveu fazer uma
brincadeira, pregar uma peça nos mais idosos. Uniram os dois grupos sem que os
pais soubessem.
A festa, num bosque todo decorado com
balões, barraquinhas de guloseimas, vinhos, queijos, salames, doces, risoto e a
famosa bacalhoada, estavam à venda. A atração dos portugueses era o pastel de
Belém.
Nesse ambiente festivo, aguardava-se
ansiosamente a entrada dos grupos de dançarinos e a expectativa de cada lado,
era que o seu, melhor desempenho teria.
Normalmente corria o jogo entre alguns
mais exaltados, tendo como juizes, quatro senhores vindos da Alemanha e que
teriam que proclamar o melhor grupo do dia.
A cada comemoração era aquela discussão,
considerando-se prejudicado pela comissão julgadora, o perdedor! Os italianos um
tanto alegres pelo vinho ingerido, falavam alto. Os portugueses, apenas alisavam
seus longos bigodes!
Entram no tablado os dois grupos
folclóricos, para a apresentação inicial. Saúdam os presentes e cada qual
posta-se nas laterais.
Um tumulto! As senhoras boquiabertas não
acreditam no que viam.
Suas meninas ali no outro grupo?
E seus filhos de mãos dadas, abraçados com
as raparigas?
Começa a dança e para surpresa geral, o
melhor exemplo de camaradagem, amizade e confraternização a juventude mostrou,
porque unidos pela música e dança, naquele dia, puseram um ponto final numa
rivalidade que durava anos.
As duas etnias aqui viram suas famílias
crescerem e seu trabalho ajudar no desenvolvimento da terra que escolheram para
viver.
Que belo exemplo esse. Um pacto de
brincadeira entre os jovens acabou por eliminar rixas antigas,
Ah! E a Cecília e o Antonio você
perguntará.
Sabe o que aconteceu?
Também não sei, mas dançaram juntos até a
festa terminar!