Quadro de Waldemar Curt Freyesleben - paisagem paranaense, 1943

 

Vi nos céus uma grande nuvem, tal qual flocos de algodão.

O Sol irradiava toda sua beleza iluminando os abismos entre as montanhas tão altas da Serra do Mar.

Uma névoa erguia-se dos vales e as orquídeas agarradas nos troncos do arvoredo denso, mais pareciam ramalhetes decorativos para uma grande festividade. As primaveras e palmeiras esguias completavam a decoração do salão ricamente enfeitado com os mais belos adornos jamais vistos e utilizados.

Que paisagem mais deslumbrante.

Emudecemos.

Mais forte batem os corações e, no ziguezaguear da estrada de paralelepípedos, as hortênsias beirando as caneletas caem viçosas tal qual tapete todo azul, verde e branco.

Da alma brotam soluços de emoções. Como as sinfonias mais belas, evolvem a tudo e a todos, protegendo o silêncio da mata, dos morros distantes, das nuvens longínquas que no seu bailado manso, sereno, distanciam-se, lá se vão faceiras!

Tudo nos traz lembranças e que lembranças!

As recordações dos passeios no calhambeque que descia e subia a serra no seu toc... toc..., parando de tempos em tempos pra resfriar e que delícia o gelado copo de caldo de cana moído manualmente, comer o milho cozido no latão, comprar melado, amendoim, paçoca, banana seca, carambola, a pequenina banana ouro, os cachos das nanicas ou caturras, a da terra, escolher goiaba pra fazer doces e geléias, a pinga pura do alambique de Morretes.

Que dizer do Mercado de Paranaguá repleto de cestos de vime com peixes e balaios de camarões?

Aquele pastel delicioso e a banana da terra empanada, era um almoço para o viajante faminto...

Delícia olhar o Nhundiaquara, as corredeiras do São João, os palmitos com casca trazidos debaixo dos nossos pés, e aquele chapéu de palha com abas, geralmente uma flor ali pintada por um artesão. Quanta saudade me dá.

Assim era a infância de nossas vidas, quando nos finais de semana o desejo de avistar o oceano todo azul, de pisar na areia úmida, molhar os pés nas águas salgadas do mar e banhar o corpo nas ondas crispando.

Com o bálsamo de todas as flores que suavemente exalam perfumes levadas pela brisa, hoje prostamo-nos ante a natureza e as recordações de um tempo que não volta mais.

O cantar dos passarinhos eram hinos e nos dizem que em cada coração há um altar e as poeiras das estrelas repousam no silêncio assim como desabrocham os brancos lírios cobertos pelo orvalho nas manhãs.

Observo agora as cigarras das nogueiras, o perfume das flores dos laranjais do meu quintal, e olhando o solitário pinheiro da rua onde moro sei que mais que uma relíquia, ele dá abrigo e sombra, os frutos saborosos mais que isso, Divino!

No anoitecer, como o navio que singra os mares desafiando vendavais e tempestades, vence oceanos profundos, nós, como embarcações iluminadas, passemos pelas chamas crepitantes das lembranças sabendo que elas habitarão para sempre em forma de poema, nosso imorredouro amor.

Estrada da Graciosa - PR

 

 


 


 

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Fale com a autora:  lyzcorrea@hotmail.com


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