Vi nos céus uma
grande nuvem, tal qual flocos de algodão.
O Sol irradiava
toda sua beleza iluminando os abismos entre as montanhas tão altas da Serra do
Mar.
Uma névoa
erguia-se dos vales e as orquídeas agarradas nos troncos do arvoredo denso, mais
pareciam ramalhetes decorativos para uma grande festividade. As primaveras e
palmeiras esguias completavam a decoração do salão ricamente enfeitado com os
mais belos adornos jamais vistos e utilizados.
Que paisagem
mais deslumbrante.
Emudecemos.
Mais forte
batem os corações e, no ziguezaguear da estrada de paralelepípedos, as
hortênsias beirando as caneletas caem viçosas tal qual tapete todo azul, verde e
branco.
Da alma brotam
soluços de emoções. Como as sinfonias mais belas, evolvem a tudo e a todos,
protegendo o silêncio da mata, dos morros distantes, das nuvens longínquas que
no seu bailado manso, sereno, distanciam-se, lá se vão faceiras!
Tudo nos traz
lembranças e que lembranças!
As recordações
dos passeios no calhambeque que descia e subia a serra no seu toc... toc...,
parando de tempos em tempos pra resfriar e que delícia o gelado copo de caldo de
cana moído manualmente, comer o milho cozido no latão, comprar melado, amendoim,
paçoca, banana seca, carambola, a pequenina banana ouro, os cachos das nanicas
ou caturras, a da terra, escolher goiaba pra fazer doces e geléias, a pinga pura
do alambique de Morretes.
Que dizer do
Mercado de Paranaguá repleto de cestos de vime com peixes e balaios de camarões?
Aquele pastel
delicioso e a banana da terra empanada, era um almoço para o viajante faminto...
Delícia olhar o
Nhundiaquara, as corredeiras do São João, os palmitos com casca trazidos debaixo
dos nossos pés, e aquele chapéu de palha com abas, geralmente uma flor ali
pintada por um artesão. Quanta saudade me dá.
Assim era a
infância de nossas vidas, quando nos finais de semana o desejo de avistar o
oceano todo azul, de pisar na areia úmida, molhar os pés nas águas salgadas do
mar e banhar o corpo nas ondas crispando.
Com o bálsamo
de todas as flores que suavemente exalam perfumes levadas pela brisa, hoje
prostamo-nos ante a natureza e as recordações de um tempo que não volta mais.
O cantar dos
passarinhos eram hinos e nos dizem que em cada coração há um altar e as poeiras
das estrelas repousam no silêncio assim como desabrocham os brancos lírios
cobertos pelo orvalho nas manhãs.
Observo agora
as cigarras das nogueiras, o perfume das flores dos laranjais do meu quintal, e
olhando o solitário pinheiro da rua onde moro sei que mais que uma relíquia, ele
dá abrigo e sombra, os frutos saborosos mais que isso, Divino!
No anoitecer,
como o navio que singra os mares desafiando vendavais e tempestades, vence
oceanos profundos, nós, como embarcações iluminadas, passemos pelas chamas
crepitantes das lembranças sabendo que elas habitarão para sempre em forma de
poema, nosso imorredouro amor.
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