Observo há dias o comportamento de uma passarinha sabiá e seu filhote.
Ela vem voando baixo, aconchega-se no beiral do telhado. Depois de espiar para
todos os lados, desce até o gramado parecendo insegura.
Depois de pequenos saltos, sacode as asas e o rabinho.
Como são desconfiadas as aves, pois ela não se cansa em olhar ao seu redor, sua
visão é espetacular.
Rapidamente vai saltitando até encontrar uma árvore de hibisco que tenho no meu
quintal, vira a cabecinha para todos os lados, e, sobe pelos finos galhos até
onde está seu filhote.
Parece que conversa com ele, dá-lhe alimento, pedacinhos da banana que coloquei
especialmente para ela, na casinha azul das aves que nela todos os anos alguns
se reproduzem livremente.
Tenho observado essas duas gracinhas sem cansar.
Indo nos fundos da casa, encontrei um passarinho com poucos dias de vida, morto.
Mais adiante um espertinho que mal caminhava pela relva.
Ele ao me ver, saltitava abrindo as asinhas.
Apanhei uma toalha felpudinha da Laika (minha cachorra) e fui até ele. Mas o
sacaninha me deu um baile para pegá-lo pois se enfiava por entre os galhos das
hortênsias, da manjerona, das roseiras, até adentrou na garagem, onde consegui
pegá-lo debaixo de um armário.
Depois de tentar improvisar um abrigo pra ele na casinha dos pássaros que acima
falei, não sei como, mesmo fechando as laterais com plástico, ele sumiu.
A Laikinha vem nos socorrer na tentativa de encontrar o safado que nos
ludibriava, apoiado pela mãe que despistava inteligentemente onde o filhote
estava.
Finalmente desisti de levá-lo a um lugar mais seguro, pois pensei, quem melhor
que sua mãe para camuflá-lo por entre os galhos do hibisco ou das hortênsas?
Aprendi a saber onde ele num momento está, porque muda de lugar, e a mãe dá as
dicas ao alimentá-lo, mas tenho de ficar por minutos observando as estratégias
que a passarinha utiliza, para esconder seu filhote.
Um fato interessante que ocorre entre eles e eu.
Por momentos a mãe some, mas basta chegar na calçada que leva à lavanderia, para
ela vir pousar no beiral do telhado ou num galho da laranjeira.
Parece haver um pacto entre eles, não sei, uma intuição dela, que zelosa nunca
afasta-se demais do nenezinho.
Comecei a acrescentar ração para eles, pois vejo o sacrifício dela em horas e
horas de vôos em subir pelos galhinhos, como são frágeis, doces, batalhadores.
Eu nunca me imaginei ficar inerte por muitos minutos seguidos, só para cuidar de
um filhote caído de um ninho. Sou um tanto irrequieta e impaciente, mas,
agradeço até que essa criaturinha, me colocou mais na realidade do que acontece
ao nosso redor.
Agradeço à natureza por procurar me ensinar a conviver e compreender que cada
espécie tem suas formas, de zelar, de trocar, de amar.
Esse cuidado todo de uma mãe passarinha para com seu filhote, me fez refletir
ainda mais sobre as espécies existentes nesse mundo, quer sejam de animais,
aves, peixes, enfim da fauna e os da flora, porque a continuidade de cada
espécie depende das gerações.
Fiquei entusiasmada com essas duas criaturinhas inteligentes, lindas, fofas,
cada uma com suas peculiaridades.
A passarinha ao proteger seu rebento e ele indefeso, protegendo-se daqueles que
para ele poderiam ser agressores, mas, apenas desejavam vê-lo voar para a
liberdade.
Hoje, uma tristeza e muitas alegrias.
Não precisei mais buscar a Laika para localizar meu bichinho.
Ele se foi. Deu seu primeiro vôo.
Não consegui ver essa façanha dele.
Mas sei que nos céus que é seu lugar, está voando por entre as estradas do
firmamento, quiçá com sua companheira ou sozinho, mas agora, nãos mais os galhos
finos e os espinhos das roseiras podem ferir seus pezinhos, ele está no colorido
do espaço, por entre os perfumes das flores do arvoredo, e livre para ir para
onde desejar.
Nada neste mundo é intransponível.
Agora ele terá todos os amanhecer e todos os entardecer em harmonia com o mundo
que o recebe de braços abertos.
Eram duas avezinhas. Mas delas quantas mais virão para enfeitar nossos céus mais
azuis?
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