Num bairro central de Curitiba, em uma rua com residências, havia um bar onde
reuniam-se aposentados ao anoitecer.
Alegremente, bebericavam uma cervejinha e jogavam bilhar.
Ali também, casais de jovens freqüentavam certos dias da semana, que era gostoso
entre amigos, por não incluir valores monetários e passar o tempo entre
desafiantes, prática adequada pelas gozações aos perdedores.
Estilo de jogo que exige técnica, mas, não leva a discussões.
Um freqüentador assíduo, chamado Waldir, relatava casos cômicos que lá ocorriam
e que presenciou, portanto tem fidedignidade.
Pessoa simples, era solicitado pelos moradores das adjacências, para executar
pequenos serviços, era o tal do, “pau pra toda obra”, quer dizer, faxineiro,
jardineiro, encanador, pedreiro, eletricista, enfim, era o “quebra galho” mais
risonho do bairro.
Um dia, em conversa informal, começou a relatar fatos engraçados, inclusive
ocorridos com ele e sua esposa, um tanto revoltada contra os donos do bar,
segundo ela, eram o próprio... Satanás.
Religiosa, um tanto fanática, odiava reunião entre amigos.
Sabíamos que por vezes, Waldir sumia do bairro e era aquela preocupação dos seus
clientes de serviços esporádicos:
— Onde anda o Waldir?
Logo, avisavam que havia voltado para o interior atrás da esposa que ficava
amuada com as idas dele ao bar, pois todas as sextas feiras, participava do
torneio de bilhar, chegando em casa com “bafo de pinga”, e meio vesgo, (palavras
dela).
Não passava muito tempo, lá estava o Waldir de volta, com a esposa, prometendo
nunca mais pisar naquele bar, nem chegar perto da mesa de bilhar!
Por umas semanas, cumpria a promessa.
Mas, ao passar pela tentação do bar, via seus amigos de jogatina e, a promessa
ia pelos ares!
Novamente a mulher ficava muito zangada, prometia retornar ao interior e nunca
mais voltar, já que ele, não cumpria com a palavra dada.
Assim, ora Waldir abandonava as idas ao bar, ora tinha as famosas recaídas,
promessas à esposa e filhos por algum tempo cumpridas, mas por vezes, lá estava
o Waldir na mesa de bilhar.
Um dia, segundo ele, estava vencendo
uma partida, feliz da vida, tomando sua cervejinha geladinha, quando,eis que
pela porta dos fundos, entra quem?
Vejam só, Waldir contava em casa que ficara até tarde da noite em serviço
temporário na casa de alguém, inventava na hora de quem, para não dar motivos
dela zangar por ter ido ao bar.
Pensava com amigos, que fazer para não serem vistos da rua principalmente pela
Cláudia, sua mulher, já que a viram passar várias vezes pelo local, espiando a
sala de jogos.
Assim, resolveram levar uma das mesas de bilhar para o salão junto à
churrasqueira que não podia ser vista sem adentrar nele.
Naquela linda noite de luar, calorzinho de verão delicioso, próprio para
uma”geladinha”, juntamente com a alegria da reunião com amigos e o famoso
bilharzinho, Claudia entra na sala.
Ela! A já chamada “jararaca” e “víbora” pelos amigos do Waldir.
Todos ficaram parados, sem reação, quando Cláudia chega próximo da mesa, mão na
cintura, apanha o taco das mãos do marido e agressivamente falou: — Ou você
larga esse maldito jogo, ou quebro-lhe a cabeça com esse taco!
A situação pela dramaticidade, causou mal estar entre os presentes. Um deles
disse: — Venho aqui pra distrair, relaxar, descontrair, não para ver briguinhas
de marido e mulher e ainda fazer papel de apaziguador, caramba!
Outro, mais descontraidamente, dizia haver muita camaradagem entre eles, com
brincadeiras, e que considerava ser uma noite festiva.
Num dos momentos, um dos mais calados, dirige-se até onde Cláudia está e talvez por
não querer opinar sobre a situação do casal, reclama que não é apenas um jogo,
mas, um esporte, e que as autoridades que só valorizam o futebol, deviam apoiar iniciativas assim.
Para ele era fundamental aquelas horas e se objetivos fossem melhor focados,
jogos assim, tirariam a juventude das ruas e das drogas, porque são necessárias
habilidades como atenção, concentração, além de fazer bem ao corpo, faz à mente
também.
Mais afastado, estava um senhor de cabelos grisalhos, bigode, estatura baixa,
cara de enfezado, apoiado num taco de bilhar, aquele tipo “machão” da época dos
nossos bisavós, diz em tom grave:
— Ah! Se fosse minha mulher, quebrava os “cornos” dela agora mesmo! Onde já se
viu, mulher
que presta não vem num bar, atrás do marido.
E, olhando para os companheiros, como que pedindo aprovação ao que diz,
completa... — Que ele está fazendo de errado? Homem é homem e mulher é mulher...
e tem mais, para mim, mulher é para encostar a barriga no fogão e no tanque de
lavar roupas e ainda servir o maridão, onde estamos?
Vendo aquela cena, com afirmações hilárias de uns, preconceituosas de outros,
como do senhor nada cavalheiro, a esposa do dono do bar, chamada carinhosamente
de Tia por todos, considerou ser oportuno mostras à Claudia as instalações.
Afirmando ser um local familiar e de seriedade, onde a confraternização tinha
seu ponto forte, como via, poderia até acompanhar Waldir quando dos torneios em
que ele participava.
Posteriormente, virou-se, apontando para um quadro de giz pendurado na parede,
e, em local de destaque, contendo a pontuação dos presentes, onde via-se que
seu marido, estava em primeiro lugar!
Nisso, volta-se Waldir para todos, dizendo... sabem por que não se recebe
troféus aqui?
— Esse aí, e apontava para o dono do bar, é um “mão de vaca”.
Todos riram da franqueza do rapaz.
Alguém resolve fazer um brinde, repetindo palavras já conhecidas dos famosos
Mosqueteiros... “UM POR TODOS E TODOS POR UM”.
Já o Waldir de braço com a esposa, alegre perguntou: — Quem vai pagar a
cervejinha e a picanha que o Celso começou a assar?
Logicamente vai pagar quem perder, o jogo é apenas mais um motivo para a
confraternização, disse Paulo, que sabia ter de começar com a famosa “vaquinha”
onde cada um colaborava.
Esse, mais um exemplo que tive na vida, contava
Cláudia.
Precisou vir até aqui para comprovar, feito São Tomé, que são verdadeiros amigos
que reúnem-se alegremente, e, minha atitude, impedia que Waldir tivesse esses
momentos de felicidade, fazendo aquilo que gosta não só no trabalho, mas, também
no lazer…
— Desculpem-me, sim?
Puxou Waldir para perto de si, da um beijo afetuoso. Depois disse:
— Hoje vocês ganharam mais um amigo... EU! |