Próximo ao ano de 1890, nasce em Curitiba uma linda criança.

Sua mãe falece no parto e como não poderia deixar de ser, o fato entristeceu todos os familiares e amigos. A cidade muito pequena com pouca população, distribuía-se pelas ruas centrais que ainda hoje têm aparência daquela época.

Com seus casarios antigos a Praça Garibaldi, ruas Emiliano Perneta, Riachuelo, São Francisco, José Bonifácio, Murici e tantas outras ainda conservam um casario típico da época, onde a menina cresceu, brincando com amiguinhas.

 O Paraná desmembrado da Comarca de São Paulo em 1853, dava a Curitiba uma característica de cidade provinciana, dependente do comercio externo.

A cidade restringia-se ao hoje conhecido setor histórico, ao bairro do Batel onde algumas industrias existiam, ao Bacacheri saída para o litoral pela estrada da Graciosa, e bairros como Água Verde e Portão.

O Alto da XV não passava da Ubaldino do Amaral, sendo que além desta, grandes áreas de terrenos pertenciam a famílias tradicionais, isso ocorrendo na Campina do Siqueira, Ahú, Parolin e outros.

Ruas importantes nos anos 1900, ligavam o centro da cidade às localidades que começaram a desenvolver pelo trabalho dos imigrantes como Santa Felicidade, Colombo, Araucária, Campo Largo, Umbará, Piraquara e tantos outros. Cidades conhecidas pelo trabalho dos tropeiros como Lapa e Castro, famílias tradicionais preservavam sua história.

Num cenário assim, cresceu a menina que nessa época já era uma bela moça, rodeada pelo carinho da avó paterna (a Dona Maria da praça Garibaldi) que a criou e a quem chamava de mãe.

Essa senhora, a Dona Maria, vivenciou os dramas provocados pela guerra do Paraguai, onde teve o marido morto e um filho de 12 anos condecorado por atos de bravura

Mãe de alguns rapazes, sua casa era nas noites curitibanas freqüentada pela rapaziada, amigos dos filhos, que reuniam-se pois faziam parte da banda da cidade. Á época essa prática era incentivada pelos familiares, em cada casa havia um musicista. Existiam algumas escolas de músicas, de pintores e de ofícios.

Dona Maria citada por historiadores do Paraná, viveu até os 103 anos de idade ! Quanta história ela tinha a nos revelar!

Recordar esses acontecimentos da minha cidade de Curitiba, desconhecidos da população de hoje, me faz muito bem, porque história se faz com escritos, depoimentos, documentos, registros, pesquisas, fotos, e outros mecanismos comprobatórios. Sempre apreciei saber das pessoas da Curitiba antiga.

Pois bem, a moça encantadora de quem falei anteriormente, chamava-se Elvira, de uma bondade extrema, faleceu em 1970. Era apaixonada por plantas, flores e a cidade de Morretes. Era ela quem costurava e doava os paramentos do padre da cidade chamado Saveniano, uma vez que ele bondosamente oferecia as suas roupas aos pobres.

Muito pândego, pintava as unhas de suas galinhas apenas para rir das paroquianas que o criticavam por usar esmaltes vermelhos nas aves. Contavam que ele escondido atrás da cerca ao ouvir os comentários, resmungava... E as senhoras não pintam seus beiços? E saia às gargalhadas!

Sobre Elvira, escrevi um poema a Estrada da Graciosa, relatando ser uma ecologista numa época em que nem se comentava sobre preservação de espécies como nas últimas décadas. Flores e pinheiros que ali plantou ainda existem nos contornos sinuosos daquela que é uma das mais belas estradas do Paraná e quiçá do país.

O que eu aqui afirmo pode ser comprovado na Grota Funda, um abismo e atração turística da serra, fundos do pico Marumbi,. Ali havia sua residência pra descanso que por baderneiros foi saqueada e levada do local.quando do falecimento de seu esposo, na década de 50.

Hoje seus descendentes são proibidos de ali penetrarem por causa do decreto de preservação ambiental, o que não condenam deva existir, mas que também respeitassem o direito à usufruir o local podendo ali restabelecer a antiga moradia.

 Preservar a Mata Atlântica é dever de todos, não só dos órgãos governamentais e de proprietários não indenizados pelo Estado..Penso que se desse o direito da família onde havia a residência de construírem outra idêntica, dando ao local a mesma imagem existente na década dos anos 40 caracterizando uma época da Serra do Mar. Se hoje são construídos quiosques, esses não agridem a mata?

Nossos filhos e netos jamais imaginarão como era aquele local tão lindo, onde a estrada. era visitada por estrangeiros e ali paravam para beberem a água de uma fonte que se dizia medicinal.

Permitam-me um desabafo aqui. Tudo que relatei repassei a órgãos ligados ao litoral e ninguém interessou-se em saber e registrar fatos importantes do dia-a-dia que antigos proprietários conhecem de uma estrada... chamada... Graciosa!


 

Fale com a autora:  lyzcorrea@hotmail.com


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