Muitas das noites tem o inebriar de outros sons musicais.
Augusto, filho do senhor Arlindo, rapaz um tanto tímido, magro, alto, pouco
falante, ganhou de presente do padrinho num Natal um velho violino, com algumas
cordas arrebentadas.
A caixa que acomodou o instrumento por anos e anos, estava bem conservada.
Algumas vezes, quando a nostalgia chegava até os presentes, ou quando comentavam
a triste situação dos pequenos proprietários rurais que, sujeitos à intempérie
do tempo, não são apoiados pelos governantes, com raríssimas exceções, o rapaz
apoiava seu instrumento no queixo, e com ele, tirava sons maravilhosos de óperas
dos grandes compositores eruditos.
Alguns chamavam a atenção pelas belezas das composições, Paganini,
Tchaikovsky e
outros, que com maestria, apresentaram verdadeiras obras primas da música no
passado. Mesmo naquele meio mais rural, encantava as pessoas os sons maviosos
que ouviam, tão diferentes do seu estilo musical mais sertanejo e popular.
No terreno bem limpo, varrido, terra avermelhada, eles, debaixo das árvores onde
diariamente ao nascer do sol passarinhos ali abrigavam-se e construíram seus
ninhos, tão delicados, perfeitos, entrelaçados por pequenos gravetos, capins e
algumas flores, até pelos de animais e penas de algumas aves, neles são
colocados.
No ambiente tão bucólico, lindo, os sons dos instrumentos misturam-se aos dos
grilos, rãs do banhado ao lado, ou ao canto do galo que na madrugada dá seu
recital.
Nesse gozo sadio de amizades, de encanta mentos, descortinam-se visões lindas no
céu escuro, repleto de astros que tombam para lá e pra cá, no caminhar
estonteante pelo infinito.
Assim, mostram que nada é mais perfeito que as amizades, as reuniões regadas ao
som daqueles instrumentos quer mais rudimentares ou muito elaborados, numa
cerimônia onde festeja-se apenas o querer bem dos vizinhos e passantes que, no
lombo de um burrico, cavalo manga larga ou um veículo, ali , abrigavam-se
fraternalmente como irmãos, das mesmas distancias, dos mesmos desafios, das
mesmas determinações, dos mesmos objetivos.
Depois, no lasquear a costela assada na vala meio funda do quintal, venturosos
os que saborearam a carne em sal grosso e pimenta, debaixo das árvores
benfazejas protetoras do sereno frio, deixam passar as últimas réstias de luzes,
penetrantes também na mesa tosca de madeira, no tabuleiro do pão amanhecido, na
garrafa de pinga pura do alambique, do cálice de vidro e do saco de carvão!!!
Aquela réstia de luz... aquela réstia de luz... aquela...